o olho é gordo.
a raiva é seca.
a inveja espuma e esconde.
a luxúria baba.
avareza, a pobreza.
a preguiça estica e espera pelos outros.
o orgulho, ah, esse sim, o entulho.
C.
sexta-feira, 31 de julho de 2015
quarta-feira, 4 de março de 2015
Laboratório
Noite mal
dormida e cruel...
Acordou
pretendendo ficar na cama, mas a obrigação a pôs pra fora do quarto.
O banho
matinal não foi suficiente para despertá-la nem pra amansar seus cabelos, que
rebeldes estavam e irritados ficaram.
Não gostava
de café puro e o seu breakfast não teve gosto de nada. Apenas muitas massas que
ela odiava. Todas.
Às sete da
manhã ela chegou na faculdade pra apresentar sua aula de medicina legal, e foi
logo avisando para os seus alunos que esperavam uma aula estimulante:
— Estou
morta!
O aluno,
cheio das ideias, foi logo deduzindo:
—Hoje é aula
prática, gente.
C.
Protuberâncias são exigências
Decepção.
Exibiu os
mamilos murchos e escuros e ninguém prestou atenção.
Nem a
polícia ou policiais irritados lhe deram voz de prisão nem uns tapas na cara.
Mas, como
poderia se não havia nenhuma protuberância à mostra.
E se fosse
uma peituda, com seios fartos, generosos; daqueles que prometem leite e prazer
em abundância?
Todos prestariam
atenção, né!?
Haveria
correria...
Tiro,
porrada e bomba.
A mulherada
gritaria... “amostrada”, “vagabunda”, “safada”...
Mas é como
se diz, peito de homem não serve pra nada.
C.
Mais ao sul
Qual é a
graça de brincar o carnaval acompanhado da namorada ou da patroa?
Como passar
os dias de folia, no agito das massas, sem apreciar e atender as exigências dos
corpos nus e dos comportamentos desregrados, sem rolar ciúmes medidos e desmedidos?
Ah, o
ciúme... Palavrinha cabulosa!
João e Maria
estavam casados e no miolo da agitação de Olinda (Oh, linda!).
Dançando e
pulando, Joana se aproxima de João. Lança uma piscadela de olho para o rapaz ao
mesmo tempo em que se achega e sensualiza cada vez mais a dança.
Aproxima-se
insidiosamente e num gesto felino (feminino) e indefensável agarra-o pelo rosto
suado e beija-o na boca. Um beijo de língua molhado e rasgado, bem apropriado
ao calor das carnes e direcionado pro lado de baixo da linha do equador.
João até que
tentou disfarçar o gosto, mas as mãos nos belos seios desnudos de Joana
evidenciaram o crime.
Maria, que
estava de olho e por perto, não gostou e protestou aos berros:
—Se ficar
pegando essas piranhas, eu vou beijar todos os homens daqui!
João fez de
conta que não ouviu.
Maria foi
aos 120 decibéis.
—Ouviu, seu
filho da puta!?
Apontando pro
gordinho que estancou por perto pra assistir a cena, João esculachou.
—Começa por
esse baiacu.
C.
Diálogo com Raimundo
—Que felicidade
é essa a essa hora?"
—Uma
felicidade que não tem quem escreva. Sem registros para posteridade, meu amor.
—Um prazer
secreto?!
—Não, não.
Que não cabe em palavras, coração.
—Inefável?
—É isso.
—Então, tem
uma palavra pra dizer.
—Que quer dizer
que não pode ser descrito em palavras; indizível. Num foi o que eu disse.
—Mas que
também quer dizer, encantador, delicioso... Inebriante...
—Hum?
—É, inefável
também quer dizer inebriante, sabia?!
—Inebriante!
—É, que
embriaga, do verbo tomar cachaça.
—Glup
—Raimundo,
você andou bebendo?
C.
segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015
No embalo da rede
Bebendo um
café, deitado na rede social, vejo
uma postagem (um vídeo) sobre superação
pessoal.
Daqueles vídeos que pretendem uma vocação
motivacional; pra incentivar as pessoas a
fazerem coisas, etc.
Clico pra assistir e dois segundos depois me
aborreço e pressiono ESC. Questiono-me: e as
minhas conquistas? Posso contar? Terão
audiência?
Vou arriscar. Pode parecer bobagem.
Que me digam aqueles que conseguiram andar de
elevador pela primeira vez aos trinta anos.
Consegui abrir um conta no facebook!
Mas, não me levem à mal. Já estou pensando na
teclazinha de três letras.
C.
uma postagem (um vídeo) sobre superação
pessoal.
Daqueles vídeos que pretendem uma vocação
motivacional; pra incentivar as pessoas a
fazerem coisas, etc.
Clico pra assistir e dois segundos depois me
aborreço e pressiono ESC. Questiono-me: e as
minhas conquistas? Posso contar? Terão
audiência?
Vou arriscar. Pode parecer bobagem.
Que me digam aqueles que conseguiram andar de
elevador pela primeira vez aos trinta anos.
Consegui abrir um conta no facebook!
Mas, não me levem à mal. Já estou pensando na
teclazinha de três letras.
C.
sábado, 7 de fevereiro de 2015
Tudo começa com uma conversa
—A mulher
precisa ter cuidado pra não cansar o homem...
—...e o
homem deve ter cuidado pra não
entediar a mulher!!!
—Amor, estamos
cansados e entediados um com o outro, né!?
—Não, eu é
que estou puta da vida com o seu pau mole!!!
C.
quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015
Gemidos de um olho
—Ponha o
acesso!
Disse a
médica anestesista para sua assistente, com ar de quem sabe o que diz.
—Ai!
Gemeu o
paciente com a dor de uma agulha calibrosa furando sua carne à procura de
sangue.
A doutora
não perdeu tempo:
—Homens
frouxos! Não aguentam dor. Imagine se fossem parir.
Impaciente
com a provocação o homem retrucou:
—Ai,
doutora; a minha condição de total entrega e passividade neste momento não me
permite, mas tenho uma resposta na ponta da língua pra senhora.
Passada a
operação no olho e já na sala de repouso, o paciente espera pela alta médica.
De repente, surge na sua frente, bem diante do seu olho esquerdo (o direito
estava com tampão) a doutora. Doutora Mia. Nome que agora conseguia ler no
crachá profissional da médica que seus peitos suportavam com sucesso.
Além das
protuberâncias frontais, Dra. Mia também carregava um corpo jovem, fios
abundantes e amarelos na cabeça e um rosto bem desenhado e afilado.
Ela parou na
frente dele, pôs as mãos nos quadris, quebrou suavemente a cintura para o lado
direito e disse:
—Qual a
resposta?
—Levantar um
pênis, doutora. Pra poder engravidar as
mulheres e após nove meses vocês parirem seus lindos filhos. Afinal, uma dor,
qualquer que seja, tem que terminar em beleza, não é mesmo!?
A doutora
Mia, nada disse com palavras. Mas, seus olhos castanhos (quase pretos)
expressaram por ela a gratidão do mundo.
Dez minutos
depois, o paciente foi pra casa, são, salvo e curado.
C.
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