quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Gemidos de um olho



—Ponha o acesso!
Disse a médica anestesista para sua assistente, com ar de quem sabe o que diz.
—Ai!
Gemeu o paciente com a dor de uma agulha calibrosa furando sua carne à procura de sangue.
A doutora não perdeu tempo:
—Homens frouxos! Não aguentam dor. Imagine se fossem parir.
Impaciente com a provocação o homem retrucou:
—Ai, doutora; a minha condição de total entrega e passividade neste momento não me permite, mas tenho uma resposta na ponta da língua pra senhora.
Passada a operação no olho e já na sala de repouso, o paciente espera pela alta médica. De repente, surge na sua frente, bem diante do seu olho esquerdo (o direito estava com tampão) a doutora. Doutora Mia. Nome que agora conseguia ler no crachá profissional da médica que seus peitos suportavam com sucesso.
Além das protuberâncias frontais, Dra. Mia também carregava um corpo jovem, fios abundantes e amarelos na cabeça e um rosto bem desenhado e afilado.
Ela parou na frente dele, pôs as mãos nos quadris, quebrou suavemente a cintura para o lado direito e disse:
—Qual a resposta?
—Levantar um pênis, doutora.  Pra poder engravidar as mulheres e após nove meses vocês parirem seus lindos filhos. Afinal, uma dor, qualquer que seja, tem que terminar em beleza, não é mesmo!?
A doutora Mia, nada disse com palavras. Mas, seus olhos castanhos (quase pretos) expressaram por ela a gratidão do mundo.
Dez minutos depois, o paciente foi pra casa, são, salvo e curado. 

C.

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