quarta-feira, 4 de março de 2015

Laboratório



Noite mal dormida e cruel...
Acordou pretendendo ficar na cama, mas a obrigação a pôs pra fora do quarto.
O banho matinal não foi suficiente para despertá-la nem pra amansar seus cabelos, que rebeldes estavam e irritados ficaram.
Não gostava de café puro e o seu breakfast não teve gosto de nada. Apenas muitas massas que ela odiava. Todas.
Às sete da manhã ela chegou na faculdade pra apresentar sua aula de medicina legal, e foi logo avisando para os seus alunos que esperavam uma aula estimulante:
— Estou morta!
O aluno, cheio das ideias, foi logo deduzindo:
—Hoje é aula prática, gente. 

C.

Protuberâncias são exigências



Decepção.
Exibiu os mamilos murchos e escuros e ninguém prestou atenção.
Nem a polícia ou policiais irritados lhe deram voz de prisão nem uns tapas na cara.
Mas, como poderia se não havia nenhuma protuberância à mostra.
E se fosse uma peituda, com seios fartos, generosos; daqueles que prometem leite e prazer em abundância?
Todos prestariam atenção, né!?
Haveria correria...
Tiro, porrada e bomba.
A mulherada gritaria... “amostrada”, “vagabunda”, “safada”...
Mas é como se diz, peito de homem não serve pra nada.

C.

Mais ao sul



Qual é a graça de brincar o carnaval acompanhado da namorada ou da patroa?

Como passar os dias de folia, no agito das massas, sem apreciar e atender as exigências dos corpos nus e dos comportamentos desregrados, sem rolar ciúmes medidos e desmedidos?

Ah, o ciúme... Palavrinha cabulosa!

João e Maria estavam casados e no miolo da agitação de Olinda (Oh, linda!).

Dançando e pulando, Joana se aproxima de João. Lança uma piscadela de olho para o rapaz ao mesmo tempo em que se achega e sensualiza cada vez mais a dança.

Aproxima-se insidiosamente e num gesto felino (feminino) e indefensável agarra-o pelo rosto suado e beija-o na boca. Um beijo de língua molhado e rasgado, bem apropriado ao calor das carnes e direcionado pro lado de baixo da linha do equador.

João até que tentou disfarçar o gosto, mas as mãos nos belos seios desnudos de Joana evidenciaram o crime.

Maria, que estava de olho e por perto, não gostou e protestou aos berros:

—Se ficar pegando essas piranhas, eu vou beijar todos os homens daqui!

João fez de conta que não ouviu.

Maria foi aos 120 decibéis.

—Ouviu, seu filho da puta!?

Apontando pro gordinho que estancou por perto pra assistir a cena, João esculachou.

—Começa por esse baiacu. 


C.

Diálogo com Raimundo



—Que felicidade é essa a essa hora?"
—Uma felicidade que não tem quem escreva. Sem registros para posteridade, meu amor.
—Um prazer secreto?!
—Não, não. Que não cabe em palavras, coração.
—Inefável?
—É isso.
—Então, tem uma palavra pra dizer.
—Que quer dizer que não pode ser descrito em palavras; indizível. Num foi o que eu disse.
—Mas que também quer dizer, encantador, delicioso... Inebriante...
—Hum?
—É, inefável também quer dizer inebriante, sabia?!
—Inebriante!
—É, que embriaga, do verbo tomar cachaça.
—Glup
—Raimundo, você andou bebendo?

C.