terça-feira, 29 de outubro de 2013

Toda leitura



Dia vinte e nove de outubro de dois mil e treze, dia nacional do livro. 

 

Ah! Os livros.

São adoráveis companhias. Os inteligentes são como o sexo que nos estimulam a imaginação.

Para mim também se assemelham às comidas. Gosto de todas. Mas, tenho as minhas preferências. Servidas, no mínimo dou uma provada. Se gostar, sigo em frente. Se não, tento nova experiência. Sem problema.

Já ganhei e comprei muitos. Novos e usados. Sem preconceitos.

Já passei por constrangimentos. Começava a leitura e não conseguia parar. Minhas mãos e todos os meus sentidos não largavam o livro. Parecia doidice.

Hoje prefiro os de bolso. Acompanham-me sem reclamar e estão sempre à minha disposição. Não chamam a atenção. São discretos, elegantes e populares.

Já me enganei com títulos e autores. Alguns famosos. Lembro-me bem de um caso que me deixou intrigado. Ganhei de presente de aniversário um livro do consagrado escritor alemão Thomas Mann, e me surpreendi com o numero de vezes que recomecei a sua leitura.

Admito: foi desistência mesmo. Mas, pensando bem, acho que poderia escalar novamente A Montanha. Quem sabe dessa vez a leitura não seria Mágica. Afinal, toda leitura é um ato incompleto.


©Cesar Sampaio

Paleolítico domesticado

Sobre as rivalidades fraternas



Seu eu quisesse

Se eu pudesse

Se eu dissesse.

Mas eu não quero

Não posso

Não digo.

Nessa guerra de atirar pedras

O silencio é o meu aliado. 


©Cesar Sampaio

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Uma aranha em minha cama



Acordei com uma aranha

Na direção dos meus olhos

E na proximidade do meu nariz!

Ela se movimentava

Emitia uma discreta sonoridade

Que me atraia.

E tinha um cheiro

Que me enlouquecia.

Acordei excitado

E atendi ao seu chamado.


©Cesar Sampaio

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Escrevendo até o fim



Escrevo porque sinto que estou ficando velho.

Meu corpo empobrece.

Percebo que falho.

Malho

E meu corpo não reage.

Reajo

Com desesperança.

Danço

E descanso com insistência.

Demência.

Minha memória me esconde de mim mesmo.

Sigo me desfazendo

Mas, enquanto não me desfaço

Sigo escrevendo. 


©Cesar Sampaio

terça-feira, 15 de outubro de 2013

Um feliz reencontro

Homenagem ao meu amigo Antonio Soatman, no dia do seu aniversário.



Nunca o esqueci, muito menos o seu nome nem seu carinhoso apelido. Ele é Severino Antonio Soatman de Andrade, mas todos o conhecem por Totonho.  Não me lembro do último dia em que nos encontramos. Mas, uma forte recordação nunca saiu da minha cabeça: a pessoa digna, bem humorada e com a qual eu gostava de me relacionar. O destino profissional nos separou. Até o dia em que o mesmo destino nos colocou frente a frente.

Não hesitei o convite e fui ao seu encontro numa manhã de domingo, no dia da padroeira da sua cidade. Num piscar de olhos, a sua careca e a barba branca me chamaram a atenção. Mas, não podia ser muita surpresa para mim. Afinal, trinta anos não são trinta dias.

Nos abraçamos. Falei seu nome como um beliscão que se dá na própria pele para acreditar que aquele momento era real, depois de três décadas de mútua ausência. Senti, então, que nosso sentimento era recíproco e verdadeiro.

Um instante depois, ele me pegou pelo braço e disse:

— Venha conhecer minha família. Esse é meu irmão... Minha irmã... Minha mãe...

E, se referindo a uma morena bonita e simpática, disse sorrindo

—E essa aqui é a linguiça que me mordeu.

Sorrimos juntos e não tive dúvida: meu amigo Totonho perdeu os cabelos da cabeça, mas o seu humor e a nossa amizade resistiram ao tempo. 


©Cesar Sampaio